Uma tecnologia desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), que promete revolucionar o ensino de médicos veterinários quando falamos de exames reprodutivos em cadelas, chamou a atenção da alemã VETIQO, que acaba de garantir a licença para comercialização do produto.

Sendo o slogan da empresa “Innovation in teaching”, a parceria com a U.Porto assume-se, nas palavras de representantes da empresa, como uma “grande oportunidade”. “Com a celebração do acordo de licença, a VETIQO poderá utilizar a patente submetida pela U.Porto e a ideia que lhe está subjacente para o futuro desenvolvimento do modelo de citologia”, explica Laura Schüller, fundadora e diretora da VETIQO.

O objetivo que une academia e indústria, neste caso, é o “desenvolvimento corporativo de um modelo pronto para o mercado, que será comercializado pela VETIQO”, adianta a mesma responsável. Por cada modelo vendido, será paga à Universidade uma taxa pelos direitos de utilização.

Mas em que consiste, então, a invenção? Falamos de um modelo para treinar a prática de exame ginecológico em cadelas, evitando a utilização de animais vivos. A tecnologia, entretanto patenteada, foi desenvolvida e testada pelos investigadores Graça Lopes e Ricardo Marcos, dos departamentos de Clínicas Veterinárias e de Microscopia do ICBAS, respetivamente.

“A citologia vaginal é uma técnica reprodutiva habitualmente realizada por veterinários para avaliar a fase do ciclo reprodutivo na cadela”, explica Ricardo Marcos. Habitualmente, o ensino desta técnica é feito ou em cadáveres ou em animais vivos (mantidos em canil). Neste caso, como refere o investigador, “acaba por ser desconfortável para as cadelas, principalmente quando falamos de aulas em que os estudantes precisam de praticar bastante para aperfeiçoar o procedimento”, refere. Assim, este novo simulador muda essa realidade ao mesmo tempo que um mecanismo de feedback por cores transmite aos estudantes se estão, ou não, a efetuar a técnica corretamente.

Para Laura Schüller, o modelo desenvolvido na U.Porto reproduz de “forma fiel e realista as condições anatómicas do trato reprodutivo feminino de uma cadela”. Para os representantes da empresa, a principal característica diferenciadora é o mecanismo de feedback que “conduz a um maior sucesso na aprendizagem”.

Ambas as partes veem grandes vantagens no processo de licenciamento da tecnologia à VETIQO. Após várias reuniões, e depois de ligeiras adaptações do modelo de forma a chegar a uma versão “mais comercial”, chegou a altura de a VETIQO integrar o modelo no seu catálogo de produtos.

“A vantagem que vemos neste processo é que, através do licenciamento, o modelo vai passar a ser comercializado e pode ser incorporado no ensino de técnicas de reprodução em várias instituições de ensino em medicina veterinária”, refere Ricardo Marcos. Atualmente, a versão piloto, desenvolvida pelos investigadores, já foi testada em aulas nas universidades de Lisboa, Vila Real e Coimbra.

Já a VETIQO considera este acordo como uma “grande oportunidade para unir o conhecimento clínico da U.Porto com o conhecimento prático de desenvolvimento de produtos e ciências de materiais da empresa”. Ter uma cooperação estreita com os investigadores significa que o modelo pode ser desenvolvido de acordo com certas necessidades práticas e, portanto, “adaptado de forma ideal para uso na formação veterinária”, refere Laura Schüller.

Os próximos passos passam por continuar a desenvolver e melhorar o modelo. Uma vez desenvolvido o primeiro protótipo, Ricardo Marcos e Graça Lopes vão avaliá-lo junto dos estudantes. Segundo Laura Schüller, “esta valiosa experiência de aplicação prática permitirá que o modelo fique ainda mais refinado e preparado para o mercado. Desta forma, o protótipo também pode vir a ser aplicável em outras universidades, podendo ter um benefício amplo através do marketing da VETIQO”, conclui.