É um dispositivo inovador, pensado e desenvolvido na Universidade do Porto num grupo multidisciplinar de investigadores. O propósito? Medir, em qualquer lugar, a quantidade de sal presente em todos os tipos de alimentos e, assim, controlar a utilização desse condimento na alimentação e os problemas associados ao consumo em excesso do mesmo.

Carla Gonçalves, investigadora da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, é, também, nutricionista, e foi da sua prática profissional que surgiu a ideia de desenvolver o Salt Quanti. O consumo de sal em excesso é um problema mundial, ao qual Portugal não escapa, e é uma das principais causas do aumento da pressão arterial e das doenças cardiovasculares. À partida, e falando de confeção de alimentos, seria fácil resolver: cozinhar com menos sal, regulamentar as quantidades e controlar. Mas o excesso de sal está tão enraizado na nossa alimentação e costumes que o cenário se torna mais complexo, como explica Carla Gonçalves: “Tentar controlar o teor de sal nas refeições produzidas numa cozinha de restauração, por exemplo, é muito difícil de realizar. Isto porque, normalmente, a adição de sal acontece de acordo com o paladar do cozinheiro que pode gostar de um nível de sal superior ao que é recomendado, tal como a maioria dos consumidores”. Além disso, existe atualmente uma “afinidade cultural ao sal que impede que este seja visto como um risco para a saúde”, explica a investigadora. E foi face a essas dificuldades que Carla Gonçalves começou a pensar uma forma de controle mais fácil de utilizar em ambientes reais, sejam eles caseiros ou de restauração.

Com o Salt Quanti é possível, logo no momento da confeção da refeição, medir o teor de sal e, assim demonstrar a quem cozinha que está a utilizar uma quantidade não adequada. “Assim, é possível intervir atempadamente e, desta forma, promover a saúde pública. Deixa de ser uma recomendação baseada em algo subjetivo para ser baseada num valor objetivo, que as pessoas veem ali, à sua frente”, refere a investigadora.  O equipamento é portátil e funciona através de um elétrodo de ião seletivo de sódio. Para medir a quantidade de sal é necessária apenas uma pequena porção do alimento (equivalente a uma colher de sopa), que o Salt Quanti tritura, pesa e, finalmente, mede no que diz respeito ao sal, sendo também capaz de distinguir o teor de sal em relação à categoria de alimento que está a ser medido (se é sopa, pão, ou uma refeição completa, por exemplo) e poder ser utilizado em alimentos líquidos ou sólidos. Os resultados são mostrados num ecrã recorrendo a uma simbologia como os semáforos, isto é: fica verde quando o teor de sal é adequado, amarelo quando é moderado e vermelho quando é elevado. Carla Gonçalves considera esta simbologia muito importante para a perceção dos resultados por parte dos utilizadores do Salt Quanti, sendo algo que conseguem associar rapidamente a uma eventual situação de risco.

Economicamente falando, o dispositivo também apresenta vantagens: “Cada análise com o nosso equipamento fica consideravelmente mais barata do que fazer análises em laboratório”, explica Carla Gonçalves. Além disso, o Salt Quanti tem um sistema de memorização de resultados e faz com que um restaurante, por exemplo, consiga fazer uma monotorização de resultados ao longo do tempo, controlando de forma mais acessível (quando comparada com laboratórios) e rápida a evolução do uso de sal nas refeições produzidas nos seus estabelecimentos. Em suma, podemos dizer que as vantagens do Salt Quanti tornam o dispositivo adequado para ser utilizado por cozinheiros, responsáveis por unidades de restauração, nutricionistas, entidades fiscalizadoras, hospitais, entre outros, ajudando a promover hábitos de alimentação saudável em vários ambientes.

O desenvolvimento desta tecnologia envolveu (e ainda envolve) muitos investigadores, a maioria da Universidade do Porto das Faculdades de Ciências da Nutrição (FCNAUP) e Engenharia (FEUP). Carla Gonçalves (FCNAUP), Maria João Pena (investigadora independente), José Moreira (FEUP), Joaquim Gabriel Mendes (FEUP), Maria Arminda Alves (FEUP), Olívia Pinho (FCNAUP) e Rodolfo Martins (Evoleo Technologies) são os responsáveis pela concretização desta ideia, que tem contado com o apoio da empresa Evoleo Technologies. Neste momento, e em parceria, a equipa de investigação está à procura de um parceiro comercial que “permita a comprovação da tecnologia em ambiente operacional e a sua fabricação para, depois, o Salt Quanti poder ser comercializado”, refere Carla Gonçalves. No que diz respeito à propriedade intelectual, a U.Porto Inovação tem acompanhado o processo e existe já um pedido de patente nacional com boas perspetivas.

Todos os passos dados desde que o Salt Quanti era apenas uma ideia, têm deixado Carla Gonçalves orgulhosa e com vontade de continuar. A nutricionista ambiciona fazer chegar o dispositivo a todos os agentes de restauração, para que eles possam controlar, rapidamente e sem muitos custos, o teor de sal nas refeições que servem: “Acredito que todos os consumidores sairiam a ganhar com refeições mais saudáveis e saborosas, e utilizar menos sal não é impeditivo disso mesmo, uma vez que a redução gradual não é percebida pelo consumidor”, refere. A investigadora sonha em fazer de Portugal pioneiro na regulação feita ao teor de sal utilizado nas refeições servidas quer pela restauração coletiva quer pela pública, um problema que ainda nenhum país da Europa conseguiu resolver. “Que o Salt Quanti permita melhorar a saúde dos portugueses, através da alimentação”, conclui.