Foi enquanto Vice-Reitor par a Inovação e Desenvolvimento na U.Porto que José Marques dos Santos lançou as primeiras pedras para o que viria a ser a U.Porto Inovação, e que começou por se chamar UPIN.

Nesse período – de 2002 a 2006 - ocupou também o cargo de presidente Instituto para os Recursos e Iniciativas Comuns da Universidade do Porto (IRICUP), onde viria a estar sedeada a UPIN. Assim, José Marques dos Santos esteve, como refere, “intimamente ligado à criação da UPIN, em 2004” e acompanhou ativamente a sua evolução como estrutura central da U.Porto sedeada no IRICUP.

Depois disso, nas eleições para a equipa reitoral de 2006, José Marques dos Santos assumiu o cargo de Reitor da Universidade do Porto, onde continuou a “acompanhar com muito interesse a evolução da UPIN”, tutelada, nesse período, pelo Vice-Reitor Jorge Gonçalves.

1. Porque se sentiu a necessidade de criar a U.Porto Inovação?

No início do século XXI já se atribuía, generalizadamente, uma grande importância à valorização social dos resultados das atividades de investigação e desenvolvimento levadas a cabo pelas universidades e seus institutos ou centros de investigação. A Universidade do Porto considerou que tal valorização era um imperativo seu por várias razões. Em primeiro lugar, a valorização dos resultados de Investigação e Desenvolvimento (I&D), que podia ser um contributo importante para a transformação do tipo da produção nacional, libertando-a da imagem externa negativa, essencialmente conotada com uma natureza de baixa tecnologia e de mão de obra barata. Tal transformação seria essencial face ao contexto económico nacional da altura.

Esta valorização constituiria, por certo, mais um incentivo e um fator acrescido de motivação para os docentes, investigadores e alunos realizarem atividades de I&D aplicada e com forte ligação ao tecido empresarial, já muito reclamadas pela sociedade.

Ao mesmo tempo, a inovação e a criação de empresas de base tecnológica eram na altura prioridades, tanto do governo português como da Comissão Europeia. Havia, pois, uma oportunidade para utilizar iniciativas locais e europeias como meio de promover e catalisar a criação de unidades de apoio que pudessem avaliar e ajudar a utilizar tecnologias desenvolvidas na U.Porto.

O sucesso alcançado na valorização dos resultados das atividades de I&D seria um forte contributo para o reforço da imagem interna e externa da U.Porto e para o seu reconhecimento como uma universidade inovadora e empreendedora, atributos esses considerados muito importantes para a concretização da internacionalização da U.Porto.

Por outro lado, os docentes e investigadores da Universidade do Porto reclamavam, com insistência, apoio para a valorização dos resultados que obtinham nas suas atividades de I&D.

Face a estas constatações, a equipa reitoral da altura, liderada pelo Prof. José Novais Barbosa, elegeu como uma das suas prioridades o fomento da inovação e a promoção de formas sustentadas de transferência de conhecimento e tecnologia a partir dos resultados das atividades de investigação e desenvolvimento efetuadas pelos membros da U.Porto.

Para a consecução desta prioridade foi, então, criado o Gabinete UPIN – Universidade do Porto Inovação, tendo como finalidade: a procura ativa de resultados de atividades de I&D realizadas na U.Porto para apoiar a sua proteção, desenvolvimento e comercialização, tendo em vista incrementar a relevância social das mesmas; fomentar a inovação na U.Porto e no país; contribuir positivamente para a imagem da U.Porto; contribuir para a obtenção de receitas tanto para a U.Porto, como também para os seus membros, de maneira a premiar e incentivar a inovação.

2. Foi fácil o processo? 

A U.Porto Inovação foi constituída por via da evolução do Gabinete de Apoio à Propriedade Intelectual da Universidade do Porto (GAPI.UP) no sentido de promover, simultaneamente, uma abrangência das suas competências e a profissionalização dos seus recursos. 

António Teixeira, responsável pelo GAPI.UP, preparou um plano estratégico e de ação que serviu de base à criação da UPIN, tendo sido realizadas reuniões com os diretores das faculdades e os presidentes das instituições de interface para dar a conhecer a nova estrutura e promover a sua divulgação e utilização junto de cada uma das entidades que representavam. Procedeu-se também à contratação da equipa que arrancou com a atividade da UPIN.

3. Como era constituída a equipa e por que tarefas/projetos começaram?

A equipa inicial que integrou a UPIN era coordenada por Teresa Mata. Dela faziam parte também Ana Casaca e Sofia Varge, do que me recordo.

Creio que algumas das atividades iniciais foram a atualização do Manual de Propriedade Intelectual da U.Porto, a organização do curso de empreendedorismo da U.Porto, em colaboração com a EGP (102 horas) e a constituição de uma Oficina de Transferência de Tecnologia e de Conhecimento (OTIC) na Universidade do Porto.

4. Quais as maiores dificuldades?

Tanto quanto me recordo, a criação e desenvolvimento da UPIN não passou por dificuldades diferentes das normalmente sentidas por uma estrutura que se quer afirmar num domínio emergente numa instituição. São elas a formação dos seus membros, a afirmação na instituição no sentido de demonstrar a sua utilidade, a consolidação das suas atividades e a ligação externa às empresas e instituições de financiamento.

5. Como vê a importância da U.Porto Inovação nos dias que correm?

Considero que a U.Porto Inovação continua a ter uma importância vital para a U.Porto e para o país. 

De facto, é amplamente reconhecido que a indústria é crucial para a Europa e para Portugal. A Europa atravessou um longo período de desindustrialização, com início por volta do ano 2000, que levou à redução da contribuição da indústria para o PIB europeu e a elevadas perdas de emprego.

No entanto, nos últimos anos, verificou-se uma inversão do declínio da indústria da UE, com taxas de crescimento significativas em termos da percentagem da indústria no valor acrescentado total, no emprego e na produtividade do trabalho.

É hoje considerado necessário manter a recuperação da indústria na Europa. É geralmente aceite que a economia europeia perderá competitividade e não gerará novos empregos sem uma base industrial sólida e moderna, apoiada por novos conhecimentos e tecnologias e pela criação de startups e de novas PME, de acordo com uma nova abordagem da política pública de inovação.

Em Portugal, as questões associadas à indústria assumem maior importância do que no resto da UE, dada a profunda desindustrialização que se verificou no país à medida que a globalização avançava e ao facto de o país estar menos preparado para proceder a uma recuperação da sua indústria. Esta situação resulta da ainda insuficiente/inadequada qualificação dos recursos humanos, do baixo valor acrescentado da maior parte da sua produção e do escasso investimento realizado (em particular no domínio da investigação e inovação), todos eles afetando negativamente o valor da produtividade.

Assim, é fundamental repor o nível de industrialização do país para valores semelhantes, pelo menos, à média dos países da UE, apostando numa indústria de elevado valor acrescentado, resiliente e sustentável, em linha com as políticas públicas que têm vindo a ser desenvolvidas pela UE. 

Para conseguir este desiderato, é fundamental uma reestruturação do tecido empresarial português, criando empresas com dimensão e escala europeia, capazes de investir fortemente na inovação organizativa e do produto/serviço, apostando decididamente na criação de marcas próprias e deixando de produzir quase só para outros, elevando significativamente os seus níveis de produtividade. O sistema científico e tecnológico nacional deve reforçar o apoio às empresas para que consigam realizar com êxito esta transformação e para que elejam definitivamente a inovação como prioridade. 

Neste sentido, as entidades como a U.Porto Inovação terão um papel decisivo a desempenhar para que se consiga concretizar com êxito esta ingente tarefa nacional. Daqui resultará, por certo, uma produção nacional com muito maior valor acrescentado, permitindo uma maior criação de riqueza e, consequentemente, uma significativa subida dos salários.