Foi com seis anos de idade que Rolando Martins, agora investigador da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), recebeu o primeiro computador: o famoso ZX Spectrum. O fascínio que tal objeto lhe despertou na altura manteve-se firme ao longo dos anos e, desde então, manteve-se sempre ligado ao mundo da computação. “Sempre soube que queria ser cientista porque tive sempre um grande interesse pelos diversos ramos científicos e, sobretudo, porque sempre quis uma profissão onde estivesse constantemente a aprender”, conta Rolando Martins. 

O percurso prosseguiu e conta já 14 anos ao serviço da investigação, 11 deles na Universidade do Porto e 3 na Carnegie Mellon University (CMU), como investigador doutorado. Rolando Martins é formado em ciência de computadores, área da sua licenciatura, mestrado e doutoramento, sendo todos os graus atribuídos pela Universidade do Porto, onde exerce atualmente. 

Um dos seus trabalhos atuais é, como o próprio investigador a apelida, Iris, e “tem como objetivo melhorar as comunicações em ambientes com uma grande densidade de pessoas, como eventos desportivos ou concertos”, descreve. A invenção, cujo nome técnico é “Method and device for live-streaming with opportunistic mobile edge cloud offloading” foi uma das patentes da U.Porto concedidas em 2022, em Portugal

A Iris surgiu da experiência de Rolando Martins enquanto post-doc na CMU e do seu envolvimento na Yinzcam, uma empresa spin-off dessa universidade. “Durante três anos tive contacto com o melhor que se fazia na área de cloud computing e streaming e com os vários problemas que surgem quando tentamos ter soluções deste tipo em grandes aglomerados de pessoas”, refere. A maior parte do seu trabalho acontece no C3P (Centro de Cibersegurança e Privacidade da Universidade do Porto), incluindo o desenvolvimento do Iris.

Para ser possível melhorar este tipo de comunicações, a equipa de Rolando Martins criou um software capaz de gerir a carga entre servidores que, ao mesmo tempo, consegue também identificar qual o meio mais apropriado para distribuir conteúdos para cada utilizador presente nesses eventos/cenários. A grande inovação desta tecnologia, como refere o investigador, é a “utilização de recursos que até agora não eram explorados, mais concretamente tirar partido dos recursos dos telemóveis dos utilizadores que estão a usar o sistema e fazer com que eles participem no esforço de propagação da informação”, conta..

Isto em contraponto ao que acontece habitualmente, onde toda a informação reside em servidores, “o que obriga à presença de uma infraestrutura de comunicações sobredimensionada e cara para garantir o acesso à informação”, explica o investigador. A Iris torna então possível que os telemóveis comuniquem diretamente entre si e que partilhem informação, conseguindo reduzir a carga das infraestruturas de comunicação “até 12 vezes, mostrado em testes laboratoriais”, conclui Rolando Martins.

"Tornar os sistemas informáticos mais seguros, garantindo o direito à privacidade"

Além do percurso académico, Rolando Martins também passou 12 anos na indústria, mais precisamente na Investigação e Desenvolvimento da EFACEC. As diferentes áreas de trabalho – indústria e academia - permitiram-lhe acumular experiência, construir o percurso que tem hoje e, sobretudo, pensar no futuro das comunicações digitais, assunto que o preocupa. “Atualmente, fruto da crescente transição digital, os problemas societais relacionados com o uso indevido deste tipo de tecnologias têm vindo a crescer exponencialmente”, refere. 

Têm sido vários os casos noticiados recentemente de ataques informáticos a grandes empresas, incluindo Portugal, mas também os de uso indevido de dados pessoais. E é aí que Rolando Martins encontra a sua grande motivação para trabalhar: “Pretendo continuar a explorar novas soluções para tornar os sistemas informáticos mais seguros. O sonho? Conseguir, através da transferência de conhecimento, contribuir para uma sociedade mais livre, igualitária, segura, e onde a privacidade é defendida como direito fundamental”, diz. E pretende continuar a fazê-lo… na Universidade do Porto.

Na opinião de Rolando Martins, o espaço da U.Porto para inovação, na área da informática, é “comparável ao melhor que se faz lá fora”. Além disso, refere como grande mais-valia da instituição o ambiente de entreajuda entre as várias entidades como a Reitoria, a U.Porto Inovação, as Faculdades, e também a UPTEC ou Porto Business School, traduzindo-se tudo isto numa “excecional” experiência pessoal. 

Contudo, o investigador não deixa de referir a “crónica” falta de apoios à investigação e inovação por parte da tutela, bem como o “elevadíssimo grau de burocracia imposto pelas entidades financiadoras a nível nacional”. Os obstáculos existem, claro, mas o talento e imaginação dos investigadores tem sido um forte motor para os contornar: “De forma a contrariar tudo isto a U.Porto tem tido uma maior aproximação às empresas e temos vários projetos de investigação colaborativa, fomentados em grande medida pelo nosso reitor, Prof. António de Sousa Pereira e a equipa reitoral, bem como os diretores da FCUP e FEUP, Profª. Cristina Freire, e o Prof. João Falcão e Cunha [diretor entre 2014 e 2022]”, conta Rolando Martins.

Assim, e de olhos postos no futuro, o investigador sonha, atualmente, com a progressão científica da invenção Iris mas também com o lado empreendedor do processo, que será concretizado aquando da comercialização/licenciamento da patente, através da recém criada SafeHelm, empresa startup e spin-off da Universidade do Porto.