“Os lasers e a ótica ultrarrápida são uma área fascinante e com aplicações e impacto muito importantes em ciência, tecnologia, medicina, telecomunicações e em muitas outras áreas”. Quem o diz é Helder Crespo, docente e investigador da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) que investiga nesta área desde a altura do seu Doutoramento no Instituto Superior Técnico. Foi nessa altura, ainda estudante, que recebeu o Prémio Gulbenkian de Ciência pela descoberta de um novo fenómeno ótico ultrarrápido, a cascata de fotões.

Não é exagerado dizer-se que o caminho profissional traçado até aos dias de hoje começa muito cedo, logo na infância. Helder Crespo começou por querer ser astronauta, mas durante o ensino secundário percebeu que era nos lasers que via o seu futuro.  As diferentes possíveis aplicações para os lasers fazem com que seja uma área “fascinante e dinâmica e com enorme impacto para a sociedade em geral”, diz o investigador. Além disso, é uma área com uma forte ligação à inovação, para qual a equipa de Helder Crespo também tem contribuído.

Em 2013, o docente e a sua equipa ficaram em primeiro lugar no iUP25k, o concurso de ideias de negócio da U.Porto. A sua tecnologia de laser ultrarrápida, capaz de melhorar o diagnóstico avançado em oftalmologia e processar materiais de alta precisão impressionou o júri, que lhes atribuiu 15.000€ em prémios. Helder Crespo e Rosa Romero representaram a invenção, já patenteada, que passa por produzir e comercializar a mais simples e mais precisa tecnologia de controlo de laser ultrarrápido de sempre.

Começava aí uma jornada, agora dupla, dividida entre a investigação, a docência e o empreendedorismo com o nascimento da empresa Sphere Ultrafast Photonics, spin-off da U.Porto onde Helder Crespo desempenha funções de CTO. “Abracei estas duas posições por ter percebido que a nossa investigação tinha verdadeiro potencial de mercado”, revela, apesar de reconhecer as dificuldades no processo, como foi o caso da obtenção de financiamento ou a entrada no mercado mundial. No entanto, o empreendedor descreve a experiência com orgulho e satisfação: “A Sphere tem hoje um portfólio muito significativo de propriedade intelectual e colaborações ativas com parceiros académicos e industriais de referência na área da fotónica”, diz.

Vejamos o caso do consórcio europeu ELI (Extreme Light Infrastructure). Os três novos laboratórios de grande escala que o constituem, equipados com lasers únicos a nível mundial, adquiriram e utilizam regularmente a tecnologia desenvolvida pela Sphere Ultrafast Photonics. No leque de clientes da spin-off incluem-se ainda instituições como a Universidade de Berkeley (EUA), o Kings’s College de Londres, a École Polytechnique em França, e o instituto RIKEN no Japão.

Um equilíbrio entre a investigação e o empreendedorismo

Atualmente, além das desafiantes tarefas de uma empresa startup, Helder Crespo continua a lecionar na FCUP – onde é também membro do Conselho Executivo -  e a orientar um grupo de investigação no laboratório de lasers ultrarrápidos, o Femtolab. A equipa que lidera está, neste momento, a trabalhar, entre outras coisas, no desenvolvimento de novos mecanismos de observação e controlo de processos ultrarrápidos em materiais magnéticos – trabalho esse com “grande potencial de aplicação a novos métodos de armazenamento de informação”, revela o docente.

Estar dividido entre as aulas que dá, a investigação no laboratório, a Sphere Ultrafast Photonics e ainda o Diploma em Estratégia e Inovação da Universidade de Oxford – que está a frequentar no momento - é, acredita Helder Crespo, uma excelente mensagem a passar aos seus alunos: “Este é um ambiente de aprendizagem privilegiado, caracterizado pela proximidade à investigação realizada num laboratório único no país, e também pela cultura de empreendedorismo associada à forte relação com o desenvolvimento de tecnologia, patentes protótipos e spin-offs.  Tudo isto é muito estimulante e motivador e os estudantes sentem-no.”

Helder Crespo acredita que o paradigma científico se alterou muito nos últimos anos e ser, simultaneamente, empreendedor e investigador, é uma maneira de acompanhar essa evolução:  “A ciência hoje não acaba na publicação do artigo científico, é preciso ir mais além e ver o que é possível fazer com o conhecimento”, revela.  É nesse sentido que um dos seus grandes desejos a curto prazo passa por ver as novas técnicas de microscopia laser para a imagem de células – nas quais a sua equipa tem trabalhado – ajudar a encontrar curas para o cancro e doenças neuro degenerativas como Parkinson ou Alzheimer.

Caminhando com olhos postos nesse objetivo, a equipa de Helder Crespo está hoje envolvida num projeto de 2 milhões de euros do Programa UT Austin Portugal, dedicado a novas técnicas de microscopia e cirurgia laser:  “Vão ser três anos de atividade científica onde, numa fase posterior, contamos poder testar alguma da nossa tecnologia em ambiente clínico”, diz.  Para o investigador, “usar o conhecimento científico para alavancar a criação de riqueza e para a empregabilidade altamente qualificada é hoje uma meta incontornável do processo de investigação”, conclui.