É à Faculdade de Engenharia (FEUP) que, neste momento, Helena Soares chama casa. Um percurso que começou nos finais dos anos 80, no departamento de Engenharia Química enquanto assistente-estagiária, e onde concluiu as provas de aptidão pedagógica e científica, já em 1990. O ponto de partida, no entanto, não foi na FEUP, mas sim em Farmácia, também na Universidade do Porto. Depois de concluída a licenciatura em Ciências Farmacêuticas nessa faculdade, e da ingressão na FEUP, Helena Soares completou o Doutoramento em Química na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) em 1995.

 A investigadora é, então, pode concluir-se, uma mulher das ciências exatas onde, afirma, sempre teve “melhores resultados académicos do que em Humanidades”, o que talvez já fizesse adivinhar um caminho ligado à investigação científica. No entanto, na altura da inevitável pergunta ‘o que queres ser quando fores grande’, o termo investigador(a) não lhe era, de todo, familiar. “Estamos a falar do período pré 25 de abril. Além disso, no meu círculo familiar ninguém exercia essa profissão e também não era vulgar haver divulgação de ciência nos meios audiovisuais”, refere.

Mesmo não tendo uma ideia definida do que queria fazer, a paixão pela Química chegou ainda no ensino secundário e acentuou-se nos anos seguintes, até ao início do que é, hoje, o seu percurso académico: “Sabia que, à altura de entrar na faculdade, a escolha teria necessariamente de passar por um curso com uma forte componente de Química. Mais tarde, já na FEUP, tive oportunidade de evoluir para um doutoramento nessa área o que, olhando para trás, me satisfaz plenamente”, refere.

"Gosto muito da minha profissão, principalmente de desenvolver novas ideias"

Fazendo parte da família da Universidade do Porto, no total, há mais de 30 anos, Helena Soares sente-se realizada numa profissão que considera bastante estimulante embora, por vezes “desesperante no que diz respeito à máquina burocrática”, refere. No entanto, a parte positiva supera, largamente, a negativa, e o percurso académico de Helena Soares é reflexo disso mesmo: “Gosto muito da minha profissão, principalmente de desenvolver novas ideias e projetos que sejam diferenciadores e perspetivem uma futura aplicação”, conta.

Neste momento, concilia a atividade de investigadora com a de docente (também na FEUP), e está, desde o início dos anos 2000, a trabalhar em duas linhas de investigação que considera bastante atuais nos tempos que correm: a reciclagem de metais a partir de resíduos e o desenvolvimento de novos produtos de base biológica para fins agrícolas. Em ambas as áreas a investigadora acredita que existe muito potencial para “ajudar no desenvolvimento sustentável da Europa e de Portugal em particular”, uma temática que a preocupa.

A reciclagem de metais a partir de resíduos “permite devolver os metais presentes em muitos objetos do nosso dia a dia (como telemóveis ou computadores) à cadeia de abastecimento, ajudando a não esgotar os recursos naturais”, explica. Ao mesmo tempo, e tendo em conta o expectável crescimento da população mundial nos próximos 30 anos, também é fundamental o desenvolvimento de novos produtos de base biológica para fins agrícolas: “É urgente encontrar novas alternativas sustentáveis aos produtos químicos tradicionalmente usados na agricultura”, diz. Estas duas áreas de investigação  já deram origem a dois pedidos de patente a nível europeu.

Quando questionada sobre que sonhos tem para a sua investigação e trabalho, Helena Soares assume-se como uma pessoa muito pragmática: “Após o meu doutoramento fui progressivamente orientando as minhas áreas de investigação para tópicos que permitissem utilizar o conhecimento fundamental com vista à resolução de problemas que se colocam à sociedade”, refere. Assim, ao falar de sonhos, a investigadora responde o (quase sempre) inevitável quando falamos com os nossos cientistas: “chegar ao mercado e, deste modo, ser colocado ao serviço da sociedade”, conclui.