As universidades portuguesas estão cheias de talentos no que diz respeito à investigação e inovação no mar. Existem programas doutorais relacionados com a temática, empresas nascidas em contexto académico, teses, artigos científicos, invenções e pedidos de patente. Como fazer, então, para garantir que estes talentos ficam em Portugal? Como reter os investigadores e estudantes graduados?

Este foi o principal ponto de discussão no debate “As rotas de inovação no setor do mar – relações entre as Universidades e as empresas, organizado esta terça-feira, 5 de junho, pela U.Porto Inovação – com o apoio do projeto U.Norte Inova – no âmbito do evento Business2Seaum dos mais prestigiados eventos nacionais relacionados com o Mar.

Perante uma plateia de cerca de 50 pessoas, Luísa Valente, docente e investigadora do ICBAS, não hesitou em afirmar: “Temos de encontrar maneiras de não exportar o nosso conhecimento, manter cá os nossos talentos e mostrar às empresas o que podem ganhar em contratá-los”. E a melhor maneira de apoiar a inovação no mar é, efetivamente, aproximar as universidades do tecido empresarial e estabelecer cada vez melhores relações de cooperação entre ambas as entidades. “Temos muito a aprender com as empresas”, referiu também Luísa Valente.

A opinião foi geral, e partilhada pelos outros participantes da mesa redonda: Edna Cabecinha, da Universidade de Trás-os Montes e Alto Douro, Pedro Gomes, da Universidade do Minho, e também pelo moderador Vítor Verdelho, co-fundador das empresas Necton e A4F e presidente da EABA –  European Algae Biomass Association. Nessa base, os representantes das três universidades parceiras do U.Norte Inova falaram das iniciativas que cada uma das instituições coloca em prática para aumentar a proximidade de academia à indústria, sejam programas de estágios curriculares, estágios de verão, visitas de estudo ou workshops, ou até mesmo colaborações mais diretas nas quais as empresas apresentam os seus desafios às universidades, procurando estabelecer parcerias com as mesmas na busca conjunta de soluções. Neste caso, como referiu Pedro Gomes (U.Minho), “a empresa tem de identificar bem os desafios e quem pode ajudar a resolvê-los para que a relação seja benéfica para ambos os lados”. Uma coisa é certa: a preocupação das universidades em ajudar no contacto dos estudantes com os empresários é constante pois, na opinião de toda a mesa redonda, é para aí que a investigação no Mar se deverá dirigir no futuro. E é também assim que se pode começar a fazer com que os “nossos” por cá fiquem, com garantias de a investigação aplicada de tantos anos dar origem a um emprego ou a novos projetos.

Após uma sessão de perguntas e respostas, teve lugar a apresentação da Universidade Itinerante do Mar (UIM), um programa que entra este ano na sua 13.ª edição. Trata-se de uma parceria entre a Universidade do Porto, a Universidad de Oviedo e a Escola Naval que tem como principal objetivo tirar os jovens universitários da sua zona de conforto levando-os para uma verdadeira universidade em alto mar. Intensidade, vivência, trabalho de equipa e entre-ajuda 24 horas são algumas das palavras chave deste conceito inovador que leva, todos os anos, entre 40 a 50 jovens para bordo do navio Creoula. Esta vivência não deixa, contudo, de ser uma unidade curricular na qual existe preocupação com os conteúdos para que seja uma verdadeira aquisição de conhecimento para os estudantes, aos quais são atribuídos 6 créditos ECT.

Foi o sucesso das 12 edições anteriores que fez a parceria da UIM pensar numa maneira de fazer o conceito chegar às empresas. E assim nasceu a UP2Sea, cujo conceito é em tudo semelhante à Universidade Itinerante do Mar mas, desta vez, o público-alvo escolhido são organizações e empresas. Como referiu Carlos Cardoso da Silva, diretor de treino, “o UP2Sea consiste em três dias completos a bordo, com zero tecnologia e acesso a telemóveis e/ou computadores, de modo a permitir que as pessoas vivam a experiência de forma plena e depois levem de volta, para as suas empresas e organizações, o que aprenderam durante o processo”. É, acima de tudo, um “Leadership experimental learning program” que pretende ajudar a melhorar os processos dentro das empresas através de uma intensa experiência “hands on” de muito trabalho em equipa, resiliência, criatividade e resolução de problemas imediatos. O programa pode ser adaptado consoante alguns pedidos de empresas, sendo moldável ao que as mesmas pedem.

A Universidade do Porto é, enquanto universidade de um país que tanta importância dá ao mar, uma instituição preocupada com este recurso. Como referiu Carlos Brito, pró-reitor para a Inovação e o Empreendedorismo no início da sessão, “o mar é absolutamente estratégico para o nosso país”. E é por isso que a U.Porto tenciona continuar a ser parte ativa neste tipo de iniciativas, apostando sempre na valorização do conhecimento na temática e explorando de forma sustentável o que de melhor o Mar pode oferecer.

Esta sessão teve o apoio do U.Norte Inova, um projeto financiado pelo Norte2020, Portugal 2020 e União Europeia.