Quando ingressou na Universidade do Porto, há cerca de 20 anos, a investigadora e docente Colette Maurício percebeu rapidamente que a sua verdadeira paixão era a investigação. Estava em fase de concluir o doutoramento e, graças ao contacto com “cientistas fabulosos”, percebeu como “a ciência (básica ou aplicada) é fascinante”. E assim tem sido, até à data, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS – Universidade do Porto).

Apesar do trabalho desenvolvido noutras áreas, o grupo de investigação que Colette Maurício lidera tem-se dedicado ao desenvolvimento de terapias celulares. Tudo começou a pensar nos humanos, mas, recentemente, começaram a dedicar-se também a terapias celulares veterinárias. Um dos projetos de investigação deste grupo é o REGENERA, focado em células estaminais. Surgiu quando a equipa do ICBAS foi confrontada com o dado de que perto de um terço dos cavalos de corrida termina a sua jornada com uma lesão grave que, na maior parte dos casos, nem a cirurgia consegue resolver. Partindo desse problema, as investigadoras começaram a testar o uso de células estaminais e terapias celulares para promover a regeneração dos tecidos danificados, de modo a possibilitar uma cura mais rápida e eficiente, e permitindo que o cavalo volte a correr. “Já tratámos mais de 30 cavalos e os resultados são muito promissores. Todos os animais conseguiram recuperar o seu funcionamento”, conta a investigadora. Até ao momento, esta terapêutica já foi utilizada em cavalos em cães, aliviando dores nas articulações e permitindo a regeneração de tendões e ligamentos.

É verdade que a ciência sempre esteve na vida de Colette Maurício, que cresceu com uma mãe bióloga e um avô médico, ambos empenhados em incutir-lhe o gosto pela temática. Começou por licenciar-se em Medicina Veterinária e durante o doutoramento trabalhou em fisiologia. Mas depois desse capítulo decidiu mudar radicalmente de área, passando para Medicina Regenerativa e Engenharia dos Tecidos, na qual trabalha atualmente na companhia de “excelentes investigadores que são também excelentes indivíduos”, diz. No entanto, não deixa de ser curioso que um dos seus principais sonhos de criança fosse crescer e ser escritora, atividade que ainda hoje lhe dá muito prazer mesmo que se traduza “apenas” em textos científicos, uma grande parte do seu trabalho como cientista. 

No futuro, um dos seus sonhos é alargar o tratamento REGENERA a outras espécies animais, para continuar a melhorar a vida das mesmas, mas também ao tratamento em humanos. O grupo já começou a trabalhar noutro tipo de terapias celulares, a partir da geleia de Whärton e do sangue do cordão umbilical, bem como da polpa dentária de dentes definitivos. Têm também projetos na área da regeneração óssea, neuromuscular e vascular. “O nosso trabalho é sempre desenvolvido numa perspetiva de aplicação clínica”, refere a investigadora, que admite ser muito importante que “o trabalho científico desenvolvido faça diferença, melhorando efetivamente a vida de pessoas e animais” e saindo do papel e do laboratório. Para a docente, esta é uma área científica com um crescimento e evolução muito rápidos, o que irá permitir a descoberta de tratamentos para muitas patologias num futuro próximo. “Os progressos atingidos brevemente serão inimagináveis, de certeza absoluta”, refere.

Valorizando muito o trabalho em equipa, Colette Maurício não tem dúvidas de ter escolhido a Universidade e a área certas: “Tudo isto não é trabalho de uma pessoa só, mas sim de uma equipa fabulosa e que ainda hoje me faz ter a certeza que tomei a decisão certa ao começar a trabalhar nesta área. Sem estudantes de doutoramento e pós-doutoramento, tudo parava. E é a eles que agradeço tudo o que temos conseguido”, conclui.