“O fascínio pela ciência começou cedo, logo na “idade dos porquês””, refere Miguel Coimbra, recordando a infância como uma altura em que os interesses se dividiam por várias áreas, mas sempre com a ciência como pano de fundo. Geologia das formações rochosas. Tipos de nuvens. No fundo, tudo o que o ajudasse a compreender o mundo. Até que, um dia, a sua paixão se focou mais intensamente nos “mistérios da eletricidade”, refere o investigador, interesse que o levou a licenciar-se em Engenharia Eletrotécnica e, mais tarde, a fazer um doutoramento em Engenharia Eletrónica. É, desde 2006, docente e investigador da Universidade do Porto, e todo o seu percurso tem vindo a ser moldado de mãos dadas com a paixão por esta área científica.

Até que, um dia, o professor Miguel Coimbra já não era só professor. Já não era só investigador. Passou a ser também empresário, e a ciência, os alunos, a faculdade, a investigação pura tiveram de começar a dividir o espaço e atenção com o mundo dos negócios. Começavam a rabiscar-se os primeiros esboços do que viria a ser a empresa IS4H. Optar por esse caminho foi, apesar de tudo, um processo muito natural e, de certa forma, inevitável: “A ideia surge durante uma reunião com um parceiro onde se torna óbvio que sem o passo final de criação de empresa e de produto, todas as nossas contribuições na área da auscultação interativa iriam um dia morrer na gaveta”. Corria o ano de 2011 e três anos depois começava a ser formalizada a IS4H– Interactive Systems for Healthcare, saída da cabeça de um grupo de pessoas com muita vontade de fazer a diferença. Para Miguel Coimbra, Ricardo Correia, Pedro Gomes e Daniel Pereira, essa é uma das grandes mais valias desta empresa: “A IS4H nasceu já com uma equipa de fundadores muito capaz de responder aos vários desafios propostos e com uma identificação clara do produto a comercializar”.

IS4H – Interactive Systems for Health Care é, então, uma empresa que desenvolve e comercializa sistemas interactivos para a saúde. O principal produto são os sistemas de auscultação interativa, com destaque para o IS4Learning, uma tecnologia de ensino já a ser utilizados em escolas de medicina em Portugal e França, e em negociações avançadas no Canadá, Espanha e EUA. Sendo esta uma tecnologia disruptiva, foi necessária uma grande adaptação para se começar a atacar o mercado. Por esse motivo, e com muito trabalho por trás, a empresa IS4H nasce em 2014 de forma definitiva e apresenta-se em 2017 “já com faturação e clientes numa fase de internacionalização”, refere Miguel Coimbra. É também em 2017 que recebe o selo Spin-Off U.Porto.

Apesar de já ter cumprido alguns sonhos relacionados com o seu trabalho, sendo o nascimento da IS4H, de certa forma, um deles, Miguel Coimbra quer continuar a trabalhar para atingir outros. “O mais atual é o fechar de um arco de investigação em auscultação interativa desde a ideia original até à sua formulação matemática, prototipagem, prova de conceito e, finalmente, produto”, refere. Para isso, pertencer à comunidade U.Porto acaba por ser uma vantagem muito valiosa pois é um mundo onde o grupo da IS4H está sempre rodeado de “pessoas interessantes, altamente capazes e, acima de tudo, com vontade genuína de ajudar”, refere o investigador.

Mas como se conciliam os dois mundos?, perguntamos. Como ser investigador e empresário ao mesmo tempo? Miguel Coimbra não hesita em afirmar que “é, de facto, muito complicado” principalmente devido ao fator tempo. Apesar de existir a possibilidade de uma licença sabática, o investigador refere que na maior parte das vezes surge “um acumular de horas e funções difíceis de conciliar”. No entanto, a palavra arrependimento não passa pela cabeça de Miguel Coimbra e, ao olhar para balança, são mais os pontos positivos do que negativos: “Superando tudo isto, existe uma enorme mais-valia na compreensão dos dois mundos, no cruzar de uma ponte entre mentalidades quase antagónicas, tornando-nos verdadeiros embaixadores do processo de transferência de tecnologia”, conclui.